Março 29, 2024
Pacto industrial para a Europa. A resposta aos desafios que se levantam

A UE deve assumir as suas responsabilidades e definir uma estratégia 360° para o seu desenvolvimento

Os inesperados acontecimentos geopolíticos que enfrentamos, primeiro com a guerra na Ucrânia e Médio Oriente e antes mesmo com a desestabilização dos mercados trazida pela covid, não deixam dúvidas sobre aquele que deve ser um dos objetivos da União Europeia, o de reforçar uma indústria europeia que seja dinâmica e inovadora, permitindo à UE continuar a ser um ator com relevância geoestratégica a nível mundial.

No dia 20 de fevereiro teve lugar, em Antuérpia, a Cimeira da Indústria da UE. Com a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, juntou largas dezenas de executivos de quase 20 sectores industriais, mas também de sindicatos europeus. Foi a oportunidade de debater o necessário desenvolvimento de uma política industrial europeia que assuma a competitividade e a inovação como prioridades, sem deixar de maximizar as suas contribuições para o Pacto Ecológico da União Europeia.

Como consequência desta discussão, 700 nomes assinaram a “Declaração de Antuérpia para um Acordo Industrial Europeu”. Em suma, um apelo para que o Velho Continente coloque a indústria no centro nevrálgico da sua agenda estratégica, sem descurar o combate às alterações climáticas, nomeadamente por via da descarbonização da economia e aumento da capacidade de sequestro de CO2.

O pacto industrial inclui 10 grandes orientações, que resumidamente preconizam maior investimento em autonomia energética, infraestruturas logísticas, acesso seguro a matérias-primas, aceleração da inovação. Todas elas soluções prementes para dinamizar o Mercado Único e alcançar o “net zero” com produtos circulares de baixo carbono.

As preocupações ambientais e as metas climáticas são fatores estratégicos para a UE. Mas devem ser compatibilizados com a necessidade de termos uma UE competitiva, dotada de inovação tecnológica e capaz de gerar empregos qualificados. Não há dois caminhos, há apenas um, que tem de ser aquele que integra diferentes ângulos numa só estratégia, sob risco de criar uma crise social no interior da Europa, incapaz de responder aos seus cidadãos, os quais viveram um período de prosperidade nas últimas largas décadas fruto de políticas liberais conjugadas com forte aposta na inovação e na implementação de soluções tecnológicas e industriais de vanguarda.

Não tenhamos ilusões. O acesso fácil à energia tradicional acabou. As vastas cadeias de abastecimento, que ligam o Ocidente ao Sudeste Asiático, têm de ser repensadas, sob pena de se verificarem falhas graves estruturais. Há que encontrar condições para que, dentro dos inevitáveis constrangimentos, seja possível assegurar os hábitos e o modus vivendi das populações europeias.

Urge voltar à liderança da economia global! É certamente uma economia que já não corresponde ao paradigma que conhecemos, mas que será muito importante para alavancar os interesses geoestratégicos europeus na construção de um mundo hoje em convulsão.

Não queremos certamente uma UE em que os problemas se resolvam com a deslocalização de indústrias bem-sucedidas, com dumping ambiental noutras latitudes dotadas de menores exigências regulatórias ou com uma fuga de licenciados jovens, a emigrarem para outros países em busca de melhores salários.

Premissas tão importantes como o Comércio Europeu de Licenças de Emissão, Diretiva das Emissões Industriais, Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono ou Certificação de Sequestro de Carbono são muito relevantes, mas, desde logo, outra das preocupações da UE deve ser dotar-se de mecanismos que exijam a reciprocidade objetiva nas suas relações comerciais.

Estejamos cientes, temos de enfrentar os desafios e a concorrência de polos económicos fortíssimos, como o norte-americano e o chinês, nem sempre alinhados com a perceção de desenvolvimento sustentável que se verifica na Europa. Ou mesmo uma economia de guerra como a Rússia, em que se verifica que as preocupações ambientais do maior país do mundo são a menor das suas inquietações.

A UE deve assumir as suas responsabilidades e definir uma estratégia 360° para o seu desenvolvimento. Enquanto projeto holístico, obriga a que os valores ambientais, sociais e económicos sejam devidamente ponderados, aquando da tomada de decisão, naquilo que é o superior interesse do cidadão europeu.

Diretor-geral da Biond

As preocupações ambientais e as metas climáticas são fatores estratégicos para a UE. Mas devem ser compatibilizados com a necessidade de termos uma UE competitiva

Leia aqui a entrevista completa.

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