Julho 14, 2025
Floresta em Portugal pode transformar-se com estas cinco novas ideias

Sofia Knapic, SerQ
Isolar paredes com biomassa

O SerQ – Centro de Inovação e Competências da Floresta “tem-se focado na valorização da biomassa florestal, procurando desenvolver produtos que possam ser aplicados no sector da construção”, explica a coordenadora de Investigação&Inovação, Sofia Knapic. Foi nesse contexto que surgiu o projeto Value2Prevent, que consiste na “valorização da biomassa florestal como ferramenta na gestão do risco de incêndio florestal”. Financiado pela FCT, e com parceiros com a Universidade de Coimbra, o Instituto Superior de Agronomia (Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves), Proentia Oils, e Centro de Ciência Viva da Floresta. O trabalho “centrou-se na utilização da biomassa florestal residual, resultante de operações de controlo de vegetação arbustiva e de operações de exploração florestal, e no micélio [estrutura vegetativa] de fungos com vista ao desenvolvimento de novos produtos de isolamento térmico e acústico”. O resultado é um “produto para o isolamento de paredes interiores, sem carga estrutural”, revela, numa “solução inovadora” que “combina desempenho técnico com sustentabilidade ambiental, reforçando o papel da bioeconomia circular no combate às alterações climáticas”. O projeto incluiu ainda “agentes locais na construção de estratégias partilhadas para a gestão do território e valorização dos resíduos florestais”.

Martinho Martins, Universidade de Aveiro
Profissionalizar a resposta pós-fogo

Na opinião de Martinho Martins, “confundimos frequentemente dois tipos de resposta: a estabilização de emergência e o restauro ecológico”. Se por um lado a “primeira deve ser imediata, nos dias ou semanas após o fogo, para travar os processos erosivos mais severos, que ameaçam infraestruturas e populações a jusante”, o restauro ecológico foca-se na recuperação “do ecossistema a médio e longo prazo”. Só que “na prática a resposta de emergência chega com anos de atraso, resultado de candidaturas demoradas e de uma máquina burocrática que não está preparada para responder à urgência do terreno”, defende o investigador do Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro. “Tal como a prevenção foi durante décadas o parente pobre face ao combate, a recuperação pós-fogo continua hoje a sê-lo”. Por isso a proposta do docente passa por “um programa nacional que torne operacionais, eficazes e auditáveis as ações de estabilização de emergência pós-incêndio”, o que “implica formação certificada, equipas dedicadas e organizadas, com capacidade de atuar logo após os incêndios, quando a janela de oportunidade é curta e as primeiras chuvas estão a chegar”. É essencial “profissionalizar esta área” e “capacitar técnicos, definir critérios claros sobre onde, com que prioridade e com que técnicas intervir, implementar medidas eficazes e auditar os seus resultados”. Para o docente, “seria transformador um sistema de monitorização contínua, que permita avaliar, ajustar e aprender com cada intervenção” sobretudo quando “está na hora de reconhecer que os incêndios não são totalmente evitáveis”.

Gonçalo Almeida Simões, Biond
Floresta ao alcance de todos

“Se queremos, de facto, mudar a floresta portuguesa para melhor, precisamos comecar pelo princípio, pela semente do conhecimento”, garante Gonçalo Almeida Simões, diretor geral da Biond. “Só conhecendo a nossa floresta, as suas características, fragilidades e potencialidades poderemos tomar decisões conscientes e eficazes”, algo que pede um agregador de conhecimento e informações. Foi assim que surgiu o ForestSTATS. Coordenada pela Biond em colaboração com o CoLAB ForestWISE, Instituto Superior de Agronomia, e associações sectoriais como a Forestis e a ANEFA, a nova plataforma digital foi desenvolvida na sequência da Agenda transForm e financiada pelo PRR para “colocar pela primeira vez a floresta portuguesa em números ao alcance de todos”. Se antes “os dados sobre a floresta em Portugal estiveram dispersos, inacessíveis ou pouco claros”, o ForestSTATS “agrega informação estatística oficial, organizada em 13 áreas temáticas, com mais de 450 variáveis. De forma gratuita e intuitiva”. Ou seja, “qualquer utilizador, desde o cidadão curioso ao decisor político, pode explorar mapas interativos, gráficos, tabelas e descarregar a informação para os seus próprios projetos ou estudos”. A meta é que se torne “uma ferramenta indispensável para planear, antecipar riscos, formular políticas e, acima de tudo, agir de forma informada”.

Manuela Pintado, Universidade Católica Portuguesa
Lenhina para inovar

“E se o elemento mais ignorado da floresta pudesse ser a chave para o seu futuro sustentável?”, questiona a investigadora Manuela Pintado. A resposta inovadora pode estar na “valorização da lenhina, o polímero natural que dá estrutura, resistência e proteção às plantas lenhosas”. Habitualmente “subaproveitada, muitas vezes queimada para gerar energia, a lenhina pode hoje ser a base de soluções tecnológicas de alto valor, inspiradas na função que desempenha na natureza”. Através do trabalho conduzido no Centro de Biotecnologia e Química Fina da Universidade Católica Portuguesa já se desenvolveram “aplicações sustentáveis a partir de lenhina extraída de biomassa florestal e industrial” que incluem “revestimentos impermeáveis e resistentes ao calor para embalagens, substituindo plásticos ou alumínio; filtros UV naturais para protetores solares, em alternativa a compostos químicos sintéticos e de elevado impacto ambiental; materiais antimicrobianos para uso agrícola em substituição de pesticidas, como alternativa a biocidas; e adesivos e resinas com menor pegada ambiental”. Ideias que “substituem recursos fósseis e escassos, promovendo uma bioeconomia mais circular e resiliente”.

Luís Sarabando, Associação Florestal do Baixo Vouga
Nova abordagem no minifúndio

Explica o diretor técnico na Associação Florestal do Baixo Vouga que “a reduzida dimensão das propriedades florestais nas regiões Norte e Centro — mais de 70% com menos de 1 hectare —, aliada à falta de rentabilidade e à escassez de apoios públicos adequados, tem desmotivado os proprietários”, com o “abandono da gestão florestal” a fazer com que a floresta fique “mais vulnerável a incêndios, pragas e doenças, comprometendo o seu valor económico e ambiental”. É com este cenário de fundo que aparecem “as Áreas Florestais Agrupadas, uma solução concreta e inovadora promovida pela Associação Florestal do Baixo Vouga para transformar a gestão da floresta”, elabora Luís Sarabando. “Neste modelo, várias propriedades contíguas são geridas de forma conjunta, como uma unidade única com mais de 10 hectares, com um plano comum de intervenção e investimento”, com cada proprietário a manter a “titularidade do seu terreno, participando proporcionalmente nos custos e nos rendimentos, conforme a sua área”. Esta mudança “permite mecanizar operações, reduzir custos, aumentar a rentabilidade e reforçar a proteção da floresta”, além de promover “ganhos ambientais significativos, através da adoção de boas práticas de gestão florestal reconhecidas pela certificação florestal”. “Só com gestão em escala”, reitera, “poderemos potenciar a aplicação prática no terreno de todo o conhecimento existente, bem como potenciar a utilização de toda a tecnologia ao dispor atualmente”. Já implementado “em onze projetos no distrito de Aveiro”, o responsável considera que “ara o sucesso e expansão deste modelo, é essencial o apoio das políticas públicas, nomeadamente na identificação e contacto com os proprietários, bem como na criação de benefícios diferenciadores que incentivem a adesão ao modelo”.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.

Source: Expresso

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